quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Meu Mundo

                              

Essa foi a primeira vez que eu apareci numa reportagem...
Meu nome é Isadora Pires Barros, nasci em 19 de fevereiro de 1992. Tudo parecia normal até o dia que minha mãe descobriu que não ouvia. No meu aniversário de 1 ano, tive uma festa linda, o tema era menina flor, meu vestido era lindo, o fundo branco estampado de lilases, roxos e rosas, colocaram uma florzinha branca colada com durex, pois não tinha cabelo.
O tempo foi passando e eu não falava. Aos dois anos de idade, fui pra a Escola Infantil Pedacinho do Céu. Lá descobriram que eu não ouvia mesmo. Ai começou a nossa luta. Passei 11 anos de felicidade naquela escola, gostava de brincar no parque, tinha um casal de tartaruga e gostava de brincar com eles. Tia Maria Lucia, graças ao bom Deus, a ela e as outras tias, consegui aprender ler, a falar as primeiras palavras e escrever. Foi lá que eu passei meus melhores anos, de pura alegria. 
Quanto estava maior, já no primário, a moça que me buscava na escola me batia, eu tinha medo dela, quando eu via ela corria. Não sabia falar para minha mãe, o que estava acontecendo. Para não deixar marcas no corpo, ela puxava o meu cabelo, quando minha mãe descobriu e comentou com ela, porque ela batia em mim, ela ficava rindo. Eu no meu desespero, um dia peguei a faca e queria matar ela, a minha mãe não entendia nada, o que estava acontecendo. Uma outra vez, peguei a caixa de fósforo, queria por fogo no carro dela. Minha mãe achava que eu estava com problema, pois eu tinha medo dela e ficava muito nervosa. Até um dia que as mães, que ficavam na porta da escola, começou a contar a minha mãe, mesmo assim ela não acreditava. Até que um dia, ela resolveu juntar com umas mães para tirar duvidas e as mães contaram que ela dava tapas no meu bumbum e me puxava o meu cabelo até chegar na topic. 
Bom isso não é nada. Depois que sair da escola, fui para o Doriol fazer o ensino fundamental. Foi lá, que eu passei três anos de tristeza e choros. Era discriminada por todos. Quando estava fazendo a sétima série, três professores me discriminaram: Luciano, de matemática; Gonzaga, de geografia e Polinha, de inglês. Polinha era o apelido dela, o nome dela mesmo era Maria do Carmo. Essa me queria dar uma bomba de qualquer jeito, achava que eu precisava amadurecer. Chamou minha mãe na escola e disse: " Aqui não é escola para sua filha. Se você quiser, coloca ela na escola da zona rural." Chorei muito junto com minha mãe, meu pai e minhas irmãs. Queria desistir de tudo e assim eles conseguiram, fizeram eu repetir de ano. minha mãe foi em todos os lugares: secretaria da educação, superitendencia... foi parar na sala do prefeito. Entrou com o processo na  promotoria... enfim. Minha mãe me colocou numa escola estadual, lá fiz uma prova de dependencia, não perdi o ano, fiz a oitava série, mas a luta continua. A escola pede todos os exames, não acredita na minha mãe. Tem professores que até hoje não sabe que eu sou surda. Com muito dificuldade, tirei o ensino médio no ano de 2010. Naquele ano, comemorei minha formatura com familiares e colegas de escola. E assim vou vivendo minha vida. No momento estou tentando continuar os estudos, mais tá difícil entrar em uma faculdade, mais ainda não desisti, vou continuar tentando. Isso é apenas uma parte da minha história, ainda tem muitas histórias pela frente e eu vou contar aqui.